Inteligência Artificial ajuda professoras brasileiras a reduzir sobrecarga e amplia equidade na educação infantil
Pesquisas da OCDE e da New York University indicam que o uso de IA na sala de aula cresce no Brasil e pode ser aliado no combate ao burnout e às desigualdades educacionais desde a primeira infância
O avanço da tecnologia na educação está transformando a rotina das professoras brasileiras, especialmente na educação infantil — uma das etapas mais importantes do desenvolvimento cognitivo. Segundo novas pesquisas internacionais, a inteligência artificial (IA) tem se mostrado uma aliada estratégica para reduzir a sobrecarga de trabalho e melhorar a qualidade das interações com os alunos.
De acordo com o levantamento TALIS 2024, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 56% dos professores brasileiros já utilizam IA em seu cotidiano, um índice bem acima da média dos países da organização, que é de 36%. Os usos mais comuns envolvem a criação de planos de aula (77%), adaptação automática de atividades conforme o nível do aluno (64%) e o acesso a novos conteúdos e estratégias pedagógicas (63%).
Para o pesquisador Dr. Américo Amorim, da New York University, esses números refletem uma mudança de paradigma. “A inteligência artificial não substitui o olhar humano, mas pode ser uma aliada poderosa na redução da sobrecarga extraclasse e na personalização do ensino”, explica.
Sobrecarga e saúde mental das educadoras
Apesar do avanço tecnológico, o cenário da educação infantil no Brasil ainda é desafiador. Segundo dados recentes, professoras dedicam em média 14 horas semanais a atividades fora da sala de aula, incluindo relatórios e planejamento — um volume ampliado pela falta de materiais estruturados. Apenas a produção de relatórios de acompanhamento consome, em média, 76 horas por ano, o equivalente a dez dias inteiros de trabalho.
O impacto vai além da produtividade. Estudos apontam que 85% das educadoras apresentam sintomas de burnout, o que pode reduzir em até 14% o aprendizado das crianças e elevar em 23% os problemas comportamentais em sala.
IA pedagógica melhora bem-estar e desempenho
Uma pesquisa conduzida pela New York University com 180 professoras brasileiras da educação infantil mostrou que a aplicação prática da IA pode aliviar esse peso. O estudo analisou o uso da ferramenta pedagógica Escribo AI Teacher, que auxilia na elaboração de relatórios, acompanhamento do desenvolvimento infantil e personalização de atividades. O resultado foi expressivo: nota média de 9,4 em 10 na taxa de recomendação entre as professoras participantes.
Segundo Amorim, o impacto foi perceptível também fora da sala de aula. “Coordenadoras relataram que famílias elogiaram os novos relatórios, que trazem sugestões de brincadeiras personalizadas e fortalecem vínculos entre pais e filhos”, comenta o pesquisador.
Mais tempo para o que importa: o olhar humano
Pesquisas apontam que as desigualdades no desenvolvimento infantil surgem já entre os quatro e cinco anos, especialmente em contextos de vulnerabilidade. Nesse cenário, ferramentas de IA bem aplicadas podem liberar o tempo das educadoras para o que realmente importa: a observação das crianças, o acolhimento emocional e o ensino individualizado.
“A inteligência artificial pedagógica está na combinação certa — tecnologia que cuida das professoras, e professoras que cuidam das crianças”, resume Amorim.
Equidade como futuro da educação
Especialistas concordam que a redução da sobrecarga docente é uma questão de saúde pública e de equidade educacional. Quando as professoras têm tempo e energia para enxergar cada criança em sua singularidade, criam-se as condições para que todas tenham acesso às mesmas oportunidades cognitivas e afetivas, independentemente da origem socioeconômica.
“O futuro da educação infantil está em integrar ciência, tecnologia e empatia. E a inteligência artificial, quando bem usada, pode ser o elo entre esses três pilares”, conclui Amorim.